Arquivo do mês: junho 2013

Do vandalismo politicamente correto: atos (h)ordeiros


É pau, é pedra… é spray de pimenta, é gás lacrimogêneo, é bomba de efeito moral… População entrou em campo, ou melhor, saiu aas ruas, com gana, embora sem um padrão de jogo muito definido. De todo modo, foi o suficiente para escantear mesmo a portentosa Copa das Confederações da FIFA, em que pesem alguns grandes jogos que já houve na competição…

20/06/2013, Av. Presidente Vargas, no centro do Rio. Mais do que o Cordão do Bola Preta, não?

20/06/2013, Av. Presidente Vargas, no centro do Rio. Mais do que o Cordão do Bola Preta, não?

Havia muitos abusos contra a população represados, muita entrada de sola no calcanhar do povo. Então, veio o troco, digo, gota d’água!

[O que parecia uma luta imbrigável há pouco tornou-se reivindicação, consensualmente, legitimíssima.]

Mas, retornemos aa gênese de tudo… Não, não me refiro aa semana de 09 a 15 de junho, semana do dia dos namorados, em que decididamente acabou o amor, em verdade jamais existente, entre manifestantes e polícia. Tampouco me refiro aas pioneiras manifestações há dois meses em Porto Alegre que relembraram, magicamente, muitos que protestar serve ainda de algo. E também não menciono, mas poderia fazê-lo, aa Revolta do Vintém, entre 28 de dezembro de 1879 e 04 de janeiro de 1880, no Rio de Janeiro, contra o aumento de 20 réis (1 vintém) na passagem dos bondes, deixando o saldo de feridos e, mesmo mortos, na repressão aa população; contudo o mencionado aumento foi revogado.

[Valeu, gaudéria gauchada!]

revolta-do-vintem

Revolta do Vintém, Rio de Janeiro, 1779-1780

Como não poderia deixar de ser, esse princípio nasce duma aparente digressão. Ah, como senti falta de escrever aqui, e justo quando precisei me fazer recluso− e como precisava disso− o jogo ficou duríssimo. Mas, vamos ao início de tudo…

Mῆνιν ἅειδε, θεὰ, Πηλιὰδεω Ἀχιλῆος (Mênin áeide, theá, Peliádeo Achilêos), “Canta, ó deusa, a ira do peleio Aquiles”, em tradução livre. No original grego, a primeira palavra do verso (há de se considerar as especificidades da sintaxe grega para ordenação oracional) é o substantivo mênis, “ira”, “fúria”. A ira é nossa base. Lembremo-nos de que esse é o verso inaugural do poema que funda o Ocidente, a Ilíada, de Homero. Eis nosso berço de ódio, fúria, ira, raiva! Aí está uma importante gênese simbólico-cultural de nossos vandalismos e barbáries, quiçá das barbaridades também.

Afinal, segundo a nossa ética, neutra e apenas informativa mídia, tratava-se e continua se tratando de atos de baderneiros, arruaceiros e assemelhados. Coisa, enfim, de vândalos, bárbaros, hunos, quiçá visigodos (povo que se estabelece na Hispânia, Península Ibérica, após a queda do Império Romano do Ocidente).

Passeata, marcha, manifestação, apitaço… tá tudo avalizado desde que se siga a etiqueta exigida pela nossa digníssima imprensa oficialíssima: se te baterem ofereça a outra face, já que a polícia militar de índole pacificadora, comprometida e zelosa com o bem estar e integridade, sobretudo, do cidadão, apenas escolta os atos, respeitosamente sem neles interferir. Enfim, qualquer protesto no país tá liberado (e viva a democracia imposta pelo povo na marra!) desde que não se distinga muito duma espécie de megaprocissão: tudo em ordem; e não em ritmo de “horda”. Será já uma preparação para a vinda do papa? Afinal, foi a Igreja que “libertou” a Europa das sujas garras bárbaras na Idade Média.

violencia policial

Policial russa preparada pro ato, pronta pra zelar pelo bem do cidadão.

Policial russa preparada pro ato, pronta pra zelar pelo bem do cidadão.

Claro que houve aproveitamento do espaço de mobilização popular pra se entrar de sola, em nível oportunista de banditismo mesmo. Mas, a polícia sempre pôde optar por conter isso e não o fez por, deliberadamente, preferir intimidar e barbarizar manifestantes nas ruas.

Bom exemplo do comportamento de dissimulação cara de pau, ou melhor, duas caras é o do desgovernador, infelizmente do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral pinoquiando sem parar:

No jogo de nossas lutas, houve bolas fora, como um momento de inflexão ultradireitista que quero crer esteja já extirpado, expulso de campo, pouco depois de recém-saídos dos esgotos da História em que vivem chafurdando, único espaço que podem habitar amplamente e donde vieram para a sórdida prática de covardia asquerosa que os marca desde sempre. É a TFP, Turma de Filhos da Puta, confinada aos subterrâneos da História.

Lixo inreciclável!

Lixo irreciclável!

Que ao menos, isso sirva pra que se esconda menos o jogo em nosso país. Que sirva para estampar nas ruas direita e esquerda de forma mais transparente. Afinal, aqui no Brasil, “ninguém é de direita”. Diferente de tantos países com tradição de protestos de direita e de esquerda, como nossos vizinhos Chile e Argentina, por exemplo, in terra brasilis, direita e esquerda caminham, surrealmente, juntas em megapasseatas, em que sequer se sabe que estejam lado a lado. Podemos dar um salto de qualidade nesse quesito.

Já os governos recuaram, no melhor estilo “dar os anéis pra não dar os dedos” e anularam aumentos de ônibus país afora, bem como retroagiram valores, em algumas cidades, outras modalidades de transporte público. Mas prosseguem na retranca descarada!

Nessa terceira semana de protestos e atos, após o pronunciamento da presidente, que, cá entre nós, deu uma amarelada em meio a toda a conjuntura, e o contorno que alguns atos começaram a ganhar, parece ter havido algum nível de redução no rumo “sem esquema tático” que estava já a se vivenciar nesses. Enfim, falta objetividade aa nossa movimentação.

E, com certeza, é preciso agora driblar obstáculos e tentar a todo o custo marcar mais gols. Não dá pra tirar o time de campo ou recuar. Mas, também não rola rifar a pelota. É isso que a suposta convocação pro ato do dia 1º próximo parece ser. Greve geral (?!) convocada apocrifamente, via feice, ao arrepio de quaisquer centrais sindicais?! Só faltou o Chapolin convocando o suposto ato. Nesse momento, esvaziar os movimentos sociais e seus sindicatos representativos, sejam quais forem, é apostar em gol contra. É uma aposta na tática do bumba meu boi. Isso até a Dilma percebeu, ao convocar interlocução com as lideranças em rede nacional.

Também não adianta só ficar tocando de lado, fazendo tabelinha, firula, jogar pra plateia. São muitos os penduricalhos vazios que pululam e ecoam, muitas vezes, com auxílio isento da mídia, nas manifestações. Vejamos, principalmente, a inócua pretensão de se lutar pelo fim da corrupção. Inutilidade, ao menos da forma como se propõe. NÃO EXISTE CAPITALISMO SEM CORRUPÇÃO. Não há como se manter os mecanismos básicos do sistema sem ela. Já falei disso no artigo Quem tem Deus não precisa de corrupção.

Amanhã, final da Copa das Confederações, vamos levar a partida um pouco mais pro setor esquerdo do campo, até o momento em que nos tornemos implacáveis por esse lado. O jogo começou, ainda sem sinais de apito final ou mesmo de prorrogação. Se derrubar é pênalti!

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P.S.: desgosto ver a máscara de V for Vendetta, romance em quadrinhos de Alan Moore, de 1988, mais tarde, transposta pras telas numa versão bastante aquém do original, ser tão mal utilizada. Aos usurpadores de V, desanônimos que são, fica uma imagem que vale mais do que mil palavras baboseirentas que digam por aí na rede:

Alan Moore, quadrinista genial, autor, dentre outros títulos de "V de Vingança" e "Watchmen", obras-primas

Alan Moore, quadrinista genial, autor, dentre outros títulos de “V de Vingança” e “Watchmen”, obras-primas

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O poder da menina e dos souvetes


Imagem              A mãe teve um imprevisto e, desesperada, pediu à mulher que cuidasse da menina. Por umas horas apenas, ela pode chorar, por favor, não se sinta humilhada, desculpe, está difícil pra todo mundo e para as mães, como sempre.

             Leve tensão inicial entre pouco mais que estranhas. O território é o da mulher : seus confortos e chateações. A menina traz seus pertences: brinquedos, bonecos, um travesseiro. Entre elas alguma timidez e um minúsculo manual do usuário: ela costuma dormir logo, ela entende tudo, não dê mole, ela é capaz de tudo. Assim,  de olhar para os 50 cms de gente, ninguém diria. Em todo caso, a mulher, cuidadosamente, tentou se incluir em seus possíveis planos. Vasculhou a bolsa da outra, fingiu surpresa, convidou à partilha de brincadeiras e descobriu que a pequena tinha a convicção dos grandes espíritos. Não tinha grande vocabulário, é verdade, mas abusava da assertividade: olha que bacana esse quebra cabeça… náo… vamos brincar com o coelho… náo…olha esta boneca… náo… quer ver televisão… náo… que livro bonitinho, vou contar essa história… náo…quer dormir…náo. Instalou-se o silêncio. A mulher temendo algum surto da outra que, mirando-a com seus grandes olhos de esfinge, espelhava a inquietação de ambas. Não sabendo mais o que fazer, intuiu que cabia à anfitriã dar a ambas salvo conduto para fora da zona da empatia obrigatória: vou trabalhar, ela disse, se quiser deitar, aqui está seu travesseiro,  se quiser brincar, seus brinquedos estão aqui, se precisar me chame. Não estava segura de ser compreendida e blefou; a verdade é que da sua mesa não a perderia de vista. Funcionou. Logo a menina parecia absorvida por um boneco e a mulher trabalhava. Minutos depois, um sobressalto. A menina sumira, não atendeu ao chamado nem quando foi localizada, plantada em frente à porta da geladeira. Souvete, disse a pequena e não era um pedido, era uma ordem. Impossível, lamentou a mulher,  não havia como atender. Frutas foram recebidas com um olhar vazio e abanar de cabeça. Depois de muito insistir, a mulher se lembrou que na hospitalidade caipira a regra é clara : qualquer visita tem direito a mesa farta, salvo caso de penúria extrema, sem desculpas. Precisava negociar algum tempo. Não tem sorvete aqui, pode olhar, vou trabalhar, você vai brincar, vou trabalhar, você espera, depois vamos sair para tomar sorvete. Experimentou a comunicação telegráfica, alta, clara e com gestos abundantes, se esforçando por destacar a palavra mágica que viu a mãe usar com maestria. Mamãe vai TRABALHAR, você fica aqui. Funcionou. A mulher voltou ao trabalho enquanto a menina mergulhou em seus próprios afazeres que consistiam, basicamente, em rasgar as folhas de papel que não queria rabiscar, sem renunciar ao prazer de demarcar o território à volta com cores. Não parece muito feliz mas pelo menos não chorou, pensou a mulher, suspirando,  depois de cumprir as tarefas inadiáveis e antes de anunciar a realização da promessa. Vamos tomar sorvete? O efeito não podia ser mais inesperado. Os olhos da outra brilharam, deu um salto e gritou : souvete ! Sacudiu-se como quem dança, bateu palmas e fez abrir um sol no meio da sala que quase derreteu a mulher. De repente, já eram como duas ninfas no bosque a cirandar de mãos dadas  : souvete ! souvete! souvete! souvete!  numa alegria que parecia não ter fim, num congraçamento duramente conquistado, numa plenitude da partilha entre almas que se compreendem, sem que nada fizesse suspeitar a inexplicável desafinação: mamãe… olhos se enchendo de água devagar mas ameaçando virar desespero generalizado.

        Segundos de puro pânico antes que a mulher começasse a alinhar frases malucas sobre mães que vão trabalhar e deixam crianças com fadas boas que aceitam ficar elas, desde que não chorem e as levam para passear na companhia de coelhos mágicos que são amigos do dinossauro desbotado, por acaso já tinha ouvido falar da história do dinossauro contente? Os olhos secaram e se fixaram na boca da mulher.  Ah, é verdade, já tinha ouvido falar que a menina gostava de dinossauros. Com certeza ia gostar muito dessa história de dinossauro. Era uma vez um dinossauro contente que vivia em um apartamento no 12º andar junto com sua amiga menina e o amigo coelho mágico. Daí que em um belo dia o dinossauro pediu à menina para ir à piscina. Daí que a menina não tinha piscina e resolveu levar o dinossauro para o banho. Daí, como ele se molhou todo, tiveram que ficar os dois brincando ao sol até secarem. Era um dia de muito sol, a menina podia ficar vermelha, por isso resolveram brincar de passar o super creme protetor de meninas que vão sair no sol. Daí apareceu a mãe do dinossauro e disse – nossa como você está desbotado ! – e pediu para brincar também. Brincaram, brincaram muito,  até ficarem cansados. Quando estavam cansados de brincar de passar creme para o sol, a menina teve uma ideia: vamos tomar sorvete? Então a menina  pediu para a mãe do dinossauro levar todo mundo tomar sorvete. Daí saíram todos juntos, muito contentes, para procurar a mais linda loja de sorvetes que existe. E o coelho mágico ? Claro, daí o coelho mágico, que tinha sido esquecido dentro da bolsa, veio correndo atrás deles e pediu para brincar, só que ele estava invisível mas elas podiam vê-lo, porque a fada fez uma mandinga na cabeça da menina. Daí foram todos caminhando pelas ruas: o dinossauro, a menina, a mãe-fada do dinossauro e o coelho mágico que estava no modo invisível. Foram olhando os carros, as árvores, a mãe do dinossauro falando com pessoas que queriam apertar a bochecha da menina e pediam beijos que ela não dava, parando  um pouco para descansar, esperando o sinal abrir para atravessar a rua e daí chegarem ao shopping, único local perto dali, onde poderiam conseguir o melhor, o mais doce, o mais saboroso e narcótico sorvete, se o anjo das fadas temerárias ajudasse. No entanto ainda tinham que passar pela floresta por isso escalaram a grande montanha-escada e seguiram, parando para olhar uma caverna aqui, outra ali, até que a fada- mãe do dinossauro se lembrou de que aquela não era uma floresta qualquer… Era a grande floresta negra, cheia de cavernas traiçoeiras onde viviam sereias más… Binquedo?…  e que para não ser arrastado pelo canto delas, era preciso caminhar com muito cuidado, talvez caminhar pela trilha sem olhar para os lados… Binquedo. A menina sabia a senha da caverna. Compa binquedo. A grande fada estremeceu. Não tinha nenhuma varinha mágica mas sabia que a convicção de uma velha bruxa é boa defesa contra as sereias más. Não, ela disse, vamos tomar sorvete. Binquedo, quéo binquedo. Era o grande espírito, de novo, a falar pela pequena boca. A bruxa se apoderou da voz da mãe do dinossauro. Então vamos voltar para a casa. Lá está cheio de brinquedos e você nem brincou com todos. Agora eram dois enigmas se encarando enquanto duendes passavam, indiferentes. Vamos. A grande fada emprestava a voz, a grande bruxa, a convicção. Vamos. O sorvete está nos esperando. A pequena voltou ao caminho, como hipnotizada, com a mãe do dinossauro pensando que tinha grandes poderes de fada-bruxa. Até chegar à fantástica loja de sorvetes e cair na real. A menina gostava de sorvete chocolate. Não apenas gostava. Ele despertava nela um novo padrão de interação com o mundo. Em uma língua impossível de ser transcrita, se interessava, pela primeira vez e genuinamente,  pelo outro, isto é, pela mulher. Porque a mãe do dinossauro não queria ? Seria verdade que as fadas-bruxas não gostam de sorvete? Eram como velhas companheiras agora, sentadas à mesa, cada uma se divertir como podia.  A menina a se lambuzar, a mulher ao telefone com a mãe da menina, para quem tinha pouco mais a dizer que: aqui está tudo bem, não se preocupe, é a vida. A menina parou com a colher no ar, atenta, depois riu e repetiu : é a vida. E repetiu e riu. É a vida. É a vida. A mulher desligou o telefone. É a vida, disse para a menina, é a vida. A menina ria, ria. A mulher riu também e sem nenhuma ideia melhor do que fazer, partiu para se lambuzar com palavras: vida corrida, espremida, doída e doida varrida. A menina ria. É a vida, comida. A menina ria. É a vida, ferida. Espirravam borrifos de chocolate. É a vida, entretida. Gargalhava. É a vida, sofrida. Já não fazia tanto efeito. É a vida, escorrida. A menina enfim tinha terminado a taça e aceitou passar pelo lago de azulejo para se livrarem das melecas e dos grudes de salamandra. Depois, caminharam para casa. A menina ia cansada e a mulher certa que, sem mais delongas, tudo acabaria com a bendita soneca. No entanto, mal a porta se abriu e a pequena parecia ter voltado a um velho lar do qual tinha saudades. Correu por todo o apartamento, subiu e desceu dos móveis, revirou almofadas, se jogou no tapete como um cãozinho rebolando na relva, satisfeito. A mulher lembrou-se de como era sentir uma grande aventura em um pequena aventura, esqueceu da mãe da menina e se deixou levar. Brincaram, brincaram muito, até ficarem cansadas. Daí a mulher quis saber o que mais agradaria à sua convidada. Música? Músga. Era definitivo, estavam se entendendo, agora a grande sentia que estava no controle e resolveu espalhar os cds para que a pequena ajudasse a escolher. Fez indicações, ameaçou demonstrar as virtudes de um e outro mas o dedo da menina insistia em cair sobre o mais improvável. Não, não, dizia a mulher, assertiva, segura de suas velhas certezas. Esse, não! Echi, echi, repetia a jovem criatura com a persistência de quem não reconhece o tempo como medida.

           Alguns momentos depois, prostradas no sofá, cantavam ay carmela, ay carmelaaaa. A menina deitada sobre o colo da mulher com os olhos  ainda arregalados e um sorriso maroto.  É capaz da mãe ter razão, pensou a mulher, essa menina parece mesmo capaz de tudo.  

https://www.youtube.com/watch?v=4QXSYJPTiwc

PS E não é que ao procurar esta música, encontrei este singelo documentário sobre a grande Dolores Ibarruri Gomez, La pasionaria ? Que grandes aventuras se escondem nas pequenas. Ay, Carmela !  

https://www.youtube.com/watch?v=3fIN-w6MPJc

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Tempos para o velho e o novo conversarem


E eis que num dia comum, desses que vivem na sombra, uma passeata de milhares virou dezenas de milhares, que viraram milhões, que viraram a mesa. Quebraram a louça, como era de esperar e, com o barulho, quem estava dormindo despertou entre assustado e eufórico, soltou um grito reprimido, olhou para o próprio umbigo e declarou: o Brasil acordou. E logo a TV repetiu e logo um novo meme se espalhou. O Brasil acordou. Era menos verdade. A maioria estava acordada. Uns porque marchavam para o oeste, ao ritmo do Brasil Gigante, outros porque as escavadeiras e misturadeiras de concreto não os deixava dormir. Poucos estavam em berço esplêndido. Uma parcela corria de lá para cá, atrás de fazer para o pão, para o feijão, para o celular bonito, para a TV na estante, para um carrinho popular, porque não ? A sonhar com casa pra casar, mobília pra mobiliar, livros pra estudar, tentar subir mais um degrau na escalada do sucesso e, como tudo tem um preço, iam indo, mas sonolentos. Outra, essa  maioria, ia quase dormindo em pé, chacoalhando e se imprensando: horas para ir ao trabalho,  horas para voltar, horas para ir à escola, que ninguém quer viver de esmola e a vida que se leva, é a vida que se pode levar. Irmãos desses, muitos outros, mais de um quinto, que sequer se espreme na condução – porque se é verdade que restou uma parte que ainda sofre de fome, ônibus também não pode tomar. Maldita pátria mãe gentil, nunca cuidou de todos os filhos com amor e justiça, se engraçando com qualquer turista, tantas vezes madrasta de sua própria prole, tantas vezes incapaz de retirar privilégios daquela menor parte, talvez sonâmbula, que vai em carros potentes, por entre buracos e impostos, se queixando ou dando festas, se isolando em seus castelos ou partido e regressando de avião. Há tantos lugares no mundo e tantos deles, tão bonitos! Fecharam sempre os olhos para o aqui e agora e enquanto podem ou enquanto puderem vão viver da ilusão. Dos outros, bem entendido.

Mas não se consegue esgotar ou compilar numa lista tantos tipos humanos, tantos são, que nem cabem nas estatísticas. Somos 200 milhões, 200 milhões de planos ou impossibilidades. Duzentos milhões de bocas, duzentos pares de olhos que vêm o que podem ver. E eis que em um belo dia, todos acordam assustados. O que eram aquelas passeatas ? Ninguém sabia. Nem quem ia, nem quem não ia. Era menos verdade. Alguns não sabem ainda e só vão saber de ouvir dizer. Outros pensam que sabem. Outros conhecem muito bem. Há séculos os índios marcham, trocando floresta por facão, fugindo de perseguição ou negociando pedacinho do chão, da vasta terra que ocupava. Mas propriedade é invenção estrangeira e os que aqui primeiro chegaram decidiram: a cerca é nossa. Era justa, era legal. E assim, os antigos ocupantes, viraram retirantes, se embolaram com quilombolas sem escolas, viraram favelados sem empregos, viraram sem teto, mendigos na cidade e há quem diga, sempre foram vagabundos. Tudo porque o mundo, tal como eles conheciam, desapareceu sob a bota do capital, da prata, do ouro, do vil metal, que era tudo o que importava aos invasores. Dos invadidos, só restaram alguns, tocados pra fora do mato, pro gado poder pastar e resistem, acantonados, na mais densa floresta que ainda resta no mundo. Este mesmo mundo que vai fundo quando se trata de impor o que querem fazer destino de todo vivente da Terra : consumir. Eles têm um plano, eles querem terreno, sangue novo e jogar veneno, para plantar para o povo, eles dizem. É menos verdade. Muito do que se planta é para o gado ou para fazer andar os carros nas cidades que se entopem. De gente, carro, fumaça, ferro e gasolina. Cidade boa para ricos senhores da era do combustível fóssil que retira ouro negro do mar para sustentar os seus negócios . Mas o mar não está para peixe e o mundo inteiro balança na esperança, na eterna esperança, de que outro mundo seja possível. Seja no Cairo, Madri, Nova York ou Istambul, uma velha história se levanta : os famélicos da terra fazem fila para a sopa, alguns forram o estômago mas ainda têm fome de justiça, não querem só comida, querem sair das correntes, das correntes que parecem eternas . Fotos e mensagem agora cruzam os oceanos em números infinitos e em muitas praças se ouve o grito: somos ou seremos os excluídos ! Se não do sagrado consumo, da liberdade de gozar a vida, a vida, este mistério que passa cada vez mais veloz, como um trem feroz que não se sabe onde vai dar. Parem, queremos conversar.

Foram vozes mais jovens que se encontraram em reuniões pelo mundo, em todas a línguas, cores e desejos. Uns sofrem com os despejos, outros não vêm futuro, muitos não querem este que se avizinha, embrulhado em pele de cadáver de ontem. Querem novos horizontes, querem acabar com a guerra, o desabrigo, a fome e tantos males que nos comem, desde tempos imemoriais. Querem saber porquê o engenho humano, tão potente, mendiga como indigente seus rumos ao capital, à prata, ao ouro, ao vil metal que é tudo que interessa aos velhos. Algumas coisas já sabem. Sabem que estes papéis não valem a tinta que determina o valor de cada uma das vidas. Sabem que as coisas só se estragam para que novas se possa comprar, sabem que o que nos organiza, não é o direito de trabalhar mas o de explorar, enriquecer, tornar-se dono de capital, prata, ouro, vil metal, que é tudo que interessa à grande organização global.  Nos quatro cantos da Terra, suas vozes ecoam. Nós somos o novo e não nos podem parar.

Neste momento abaixo do Equador, velhos, com ou sem dor, suspiram de saudades e medos. Desconfiam dos jovens, dizem, eles não sabem pensar. Seus olhos já viram muito, trilharam caminhos incertos, aprenderam a reconhecer a dureza dos muros, das quinas desimportantes, onde perigos tocaiam.  Os novos aprenderam horizontes largos e caminham com pés descalços, imprudentes, planos definidos, pés no chão mas com o desejo de levitar. Desconfiam que os velhos não sabem sonhar mais. Estes velhos e novos vêm o mesmo ? Ainda não sabem conversar.

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O preço do feijão não cabe no poema; o da passagem também não


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Vinte centavos?

A prática institucionalizada  da identificação do outro segundo atributos positivos ou negativos por parte de quem classifica é tema de  Estigma – Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada, de Erving Goffman. Segundo tal prática, seriam “normais” os dotados de características desejáveis e os demais comporiam a categoria de estigmatizados. Para Goffman, a atitude de rotular se alterna por uma dinâmica cotidiana, na qual a polaridade entre grupos que constroem identidades no reconhecimento das similaridades e das diferenças reforça-se.  Quem classifica  em dado momento pode passar a classificado em outro, de “normal” a estigmatizado, pois se trata de um “processo social de dois papéis no qual cada indivíduo participa de ambos, pelo menos em algumas conexões e em algumas fases da vida”. “O normal e o estigmatizado não são pessoas, e sim perspectivas que são geradas em situações sociais durante os contatos mistos, em virtude de normas não cumpridas que provavelmente atuam sobre o encontro”.

Seguindo os passos do estigma, considero interessantes algumas reflexões de outro sociólogo, Zygmunt Bauman, em Modernidade e Ambivalência. Ele se atém às relações de poder inerentes ao processo de rotulação sem adentrar na questão da alternância de papéis, que não seria possível, por exemplo, no contexto do holocausto nazista. Enfatizam-se as relações travadas (com toda a carga polissêmica) entre “nós” e os “outros”. Gostaria de deixar claro que, nesses casos, os “outros” somos nós.

“A essência do estigma é enfatizar a diferença; e uma diferença que está em princípio além do conserto e que justifica portanto uma permanente exclusão”.

“A intolerância […] é a inclinação natural da prática moderna. A construção da ordem coloca os limites à incorporação e à admissão. Ela exige a negação dos direitos e das razões de tudo que não pode ser assimilado – a deslegitimação do outro.”

O outro, despojado de atributos humanos, despido tanto de racionalidade quanto de emoção, reduzido a substantivos depreciativos, é tratado como desprovido de direitos. A recusa do outro a dobrar-se às “nossas” leis faz dele parte da massa informe a ser perseguida. Destituem-se sua individualidade e seu sentimento de pertença, sua voz e seu lamento, sua força e sua sensatez. Nesse contexto, entendam-se leis como formas de patrulhamento social e ideológico.

“As armas modernas exigem uma completa eliminação da identidade moral de suas vítimas antes de eliminarem seus corpos”. São “operações sanitárias e não assassinato”. Os outros, tratados como ervas daninhas, prosseguem na batalha contra o extermínio – que pode ser real ou simbólico -, mas que igualmente imprime marcas físicas e emocionais. São usados como exemplos às avessas: cuidado! Olha só o que pode acontecer!

Os manifestantes de rua e de rede social vinham sendo estigmatizados pela grande mídia:  vândalos, arruaceiros, depredadores, propagadores da desordem. Agora há pouco li a expressão sarcástica “cara de vinagre”. Textos e vídeos emergiram em profusão, comprovando a enxurrada de inverdades: um policial quebra o vidro da viatura; jovens cariocas agachados são atingidos por balas de borracha e bombas de gás nas proximidades do Maracanã; outros são encurralados na Quinta da Boa Vista; e por aí vai. É inesgotável o material que se pode coletar para comprovar os excessos das autoridades. Não há como negar o que se vê.

Parte então essa mídia, que não nos representa, para a tentativa de desacreditar os líderes do MPL (Movimento Passe Livre). São utilizados volteios linguísticos que, na verdade, querem dizer que eles não passam de mauricinhos e patricinhas, gente com a vida ganha que, na falta do que fazer, inventa demandas que não existem, lideram movimentos utópicos.

Há pouco mais de um mês, escrevi sobre festejos e manifestações pelo Dia do Trabalhador no Brasil e no Mundo. Inquietava-me a ideia de que o nosso povo havia sumido, diluído em samba e cerveja, pão e circo. Hoje me sinto renovada. Como Ernst Bloch bem pontuou em O Princípio Esperança,  é necessário sonhar acordado para ser capaz de impulsionar mudanças.

O discurso midiático refez a caminhada. Teve cine-jornalista desculpando-se por afirmações levianas. Teve edição inteira de jornal dedicado ao movimento – mais de 10 páginas com fotos e uma retórica repaginada. Agora grifam que o grão imastigável, pedra ou indigesto, é responsabilidade de grupos muito pequenos diante de uma multidão de indignados, destacam-se a insatisfação e a mobilização dos manifestantes. É possível ouvir a musa cantando a ira de um Aquiles invulnerável. Multiplicado por 100 Mil. “Não se pode lutar contra eles” deve ter sido a conclusão a que chegaram.

Na mesma linha de raciocínio, alguns prefeitos cedem à pressão popular e rendem-se à negociação sobre o valor das passagens. Não, caríssimos governantes, os vinte centavos são apenas o começo de um diálogo que não pode parar. É chegada a hora de saberem o que é uma democracia e respeitarem vocês mesmos as leis. Parágrafo único, artigo 1º, CF: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. A democracia participativa não pede licença, impõe-se. Ela entra pela porta da frente, ainda que, para isso, precise forçar a tranca que a tenta impedir de avançar.

Agora, sim, eu sou brasileiro com muito orgulho com muito amor.

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Invasões Bárbaras: a mídia protesta


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Um líder do Movimento Passe Livre em ação

Os Anglos do Occupy Wall Street, os Visigodos dos Indignados, os Saxões do Movimento 15M, os Hunos da Primavera Árabe, nada se compara aos Vândalos do Movimento Passe Livre (MPL), que, segundo a mídia independente brasileira, usam os centavos de aumento dos transportes públicos como pretexto para aterrorizar a população ordeira.

Para compreender o maremoto de protestos que assola o Brasil, recorri a fontes limpas e isentas que não distorcem os fatos à maneira dos Blogues Sujos.

“Rebeldes sem causa da classe média, anarquistas e vândalos em geral, movidos a palavras de ordem e convocações disseminadas por meio das redes sociais. O motivo alegado, o aumento de poucas dezenas de centavos das tarifas de transporte urbano, parece secundário”.

O Globo, 15/06

“Sua reivindicação de reverter o aumento da tarifa de ônibus e metrô não passa de pretexto, e dos mais vis. São jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária, o declarado objetivo central do grupelho”.

Folha de São Paulo, 13/06

“O vandalismo, que tem sido a marca do protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), uma mistura de grupos radicais os mais diversos, só tem feito aumentar”.

Jornal Estadão, 13/06

“É um ajuntamento de pequenos grupos ultra-esquerdistas sem qualquer importância política. Têm uma prática típica de grupos fascistas. Para estes grupelhos, o vandalismo é um excelente instrumento de propaganda. Eles se alimentam do saque, da violência e da destruição do patrimônio público e privado”.

Revista Veja, 14/06

 

Dadas as definições completamente isentas e a correção do que é o verdadeiro jornalismo, podemos observar que esses grupelhos não passam de vândalos de facções radicais, que têm a violência como único objetivo. Com essas fontes de informação, o cidadão de bem certamente não precisa se arriscar no turbilhão das ruas para tomar ciência da verdade dos fatos. Como diz Reinaldo Azevedo, sensato articulista da revista de maior credibilidade do país: “São, sim, bandidos!”

Ou como disse o respeitável cine-jornalista da Rede Globo: “Esses revoltosos de classe média não valem nem vinte centavos”.

Assim também devemos nos balizar de acordo com as palavras de Geraldo Alckmin, o governador mais democrático e progressista da história de São Paulo: “É intolerável a ação de baderneiros e vândalos.”

Tanto as forças armadas quanto a polícia brasileira sempre respeitaram os limites legais em suas ações, assim como o restrito respeito aos direitos humanos. Segundo nossas fontes, a moderação da polícia militar não intimida a horda fascistoide que, em fúria informe, deixa um rastro de destruição por onde passa. Outras medidas são necessárias:

“Mas todo este aparato bélico de pouco vale se não houver uma inteligência por trás. Deter, fichar, processar e cobrar judicialmente indenização pelos danos são medidas-padrão a serem tomadas no caso. Bem como não deixar processos mofarem em prateleiras ou esquecidos em computador de delegacia”.
O Globo

“É hora de pôr um ponto final nisso. Prefeitura e Polícia Militar precisam fazer valer as restrições já existentes para protestos na Avenida Paulista. Cumpre investigar, identificar e processar os responsáveis. Como em toda forma de criminalidade, aqui também a impunidade é o maior incentivo à reincidência”.

Folha de São Paulo

 “Daqui para a frente, ou as autoridades determinam que a polícia aja com maior rigor do que vem fazendo ou a capital paulista ficará entregue à desordem, o que é inaceitável. O fato é que a população quer o fim da baderna – e isso depende do rigor das autoridades”.

Estadão

“Manifestantes são marginais e sectários. É hora de pôr um ponto final nisso!”

Veja

É de se inferir, a partir das previsões citadas, que a turba incendiária quer tomar a democracia de assalto. É necessário que as forças de segurança usem de toda forma coercitiva para salvaguardar o Estado Democrático de Direito. Fiquei sabendo de uma fonte quase confiável que os 6000 médicos cubanos que o governo federal pretende contratar, na verdade darão treinamento militar aos jovens do MPL e aos povos indígenas para desencadear uma revolução tupi-comunista no Brasil. Alguns índios já estariam ensinando os jovens do movimento a pescarem com arco e flecha a fim de se adaptarem ao modo comuno-guarani-kaiowá de viver.

Somente em São Paulo mais de 250 baderneiros foram presos, muitos sob a leve acusação de formação de quadrilha. A justiça de MG deferiu pedido do governo estadual e proibiu manifestações populares nas ruas durante a Copa das Confederações. São os defensores da democracia em ação.

Como disse o coronel Brilhante Ustra, um ícone na luta pelos direitos humanos, o Brasil não pode se tornar um Cubão.

 

 

 

 

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São Paulo . Decifra-me ou devoro-te.


Bandeira da minha terra,/Bandeira das treze listas:/São treze lanças de guerra/
Cercando o chão dos paulistas!

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/05/24/numero-de-homicidios-em-sp-chega-a-1500-e-e-o-mais-alto-em-tres-anos.htm

Prece alternada, responso/Entre a cor branca e a cor preta:/Velas de Martim Afonso,
Sotaina do Padre Anchieta!

http://noticias.gospelmais.com.br/marcha-para-jesus-2013-evento-tema-novo-tempo-52668.html

Bandeira de Bandeirantes,/Branca e rota de tal sorte,/Que entre os rasgões tremulantes,/Mostrou as sombras da morte.

http://economia.uol.com.br/noticias/efe/2013/04/06/especulacao-imobiliaria-apaga-a-boemia-do-coracao-de-sao-paulo.htm

Riscos negros sobre a prata:/São como o rastro sombrio,/Que na água deixara a chata
Das Monções subido o rio.

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/06/aumento-de-r020-na-passagem-obriga-pobres-de-sp-a-pular-refeicao.html

Página branca-pautada/Por Deus numa hora suprema,/Para que, um dia, uma espada
Sobre ela escrevesse um poema:

http://cbn.globoradio.globo.com/cbn-sp/2013/05/17/OS-MAIS-POBRES-SAO-PRECIPITADAMENTE-CRIMINALIZADOS-PELA-POLICIA.htm

Poema do nosso orgulho/(Eu vibro quando me lembro)/Que vai de nove de julho
A vinte e oito de setembro!

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22191&editoria_id=4

Mapa da pátria guerreira/Traçado pela vitória:/Cada lista é uma trincheira;
Cada trincheira é uma glória!

http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2013/06/nao-vou-recuar-afirma-alckmin-apos-protestos-em-sao-paulo.html

Tiras retas, firmes: quando/O inimigo surge à frente,/São barras de aço guardando
Nossa terra e nossa gente.

http://blog.estadaodados.com/os-efeitos-da-politica-paulista-de-encarceramento-em-massa/

São os dois rápidos brilhos/Do trem de ferro que passa:/Faixa negra dos seus trilhos
Faixa branca da fumaça.

http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=policiais-atiram-contra-pessoas-pedindo-fim-da-violencia-04020D1C3170C4A94326&mediaId=14518184

Fuligem das oficinas;/Cal que das cidades empoa;/Fumo negro das usinas/Estirado na garoa!

http://www.une.org.br/2013/06/site-da-une-acompanha-terceiro-dia-de-protestos-em-sao-paulo/

Desfile de operários;/É o cafezal alinhado;/São filas de voluntários;/São sulcos do nosso arado!

http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-lino/editoriais-da-folha-e-do-estadao-pediram-repressao-da-pm-1256.html

Bandeira que é o nosso espelho!/Bandeira que é a nossa pista!/Que traz, no topo vermelho,/O Coração do Paulista!

São Paulo/ junho de 2013/ Manifestação pelo Passe Livre – Uma vida sem Catraca.

 

MARCHA DO APERTO  ( letra)

Aperta aqui/ Aperta ali/ Aperta e vai/ Povo apertado, arrochado, rende mais/ Aperta aqui, aperta ali, aperta e vai/ E sempre tem um jeito de apertar um pouco mais.

Arrocha na saúde, aperta a educação/ Esfola no trabalho e tira o feijão/ Garganta apertada, fala menos, fica em paz,/ E pra quem tá apertado, não importa, tanto faz.

Pra que ir no banheiro? Pra que tem que almoçar? / Tempo é dinheiro não podemos esperar / A produtividade não pode baixar/ Aperta um pouco mais, eu sei que pode, eu sei que dá.

A culpa não é nossa, é lá da oposição/ Vamos fazer um acordo, é participação/ Aperta um pouco mais, é pro seu bem, é pra nação/ E o povo apertado, vai descendo até o chão.

 

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O caderno de João Cabral de Melo Neto


Image

“O que o poeta jovem procura nesse poeta mais antigo é uma definição ou uma lição de poesia.”

(João Cabral M. N., “A geração de 45”).

No que concerne às influências de João Cabral, a primeira coisa a se observar é o olhar crítico que revela uma verdadeira imunologia poética ao que não lhe é realmente essencial para forjar seu projeto artístico. Deste modo, os influxos de Drummond e Murilo Mendes surgem em “Pedra do Sono” (1940-41). As lições do primeiro são o tom prosaico e a química da ironia corrosiva; do segundo, a plasticidade e a novidade da imagem. Sob o ponto de vista do próprio poeta, “(…) foi a poesia de Murilo que me ensinou a dar precedência à imagem sobre a mensagem, ao plástico sobre o discursivo”. De ambos, Cabral absorve a recusa ao poético consagrado pela tradição e a prevalência do processo construtivo na criação.

A julgar pela aproximação da poesia muriliana e da pintura de Miró, é possível rastrear a vinculação do jovem João Cabral ao Surrealismo, cuja vertente de construtivismo abstrato foi mais cara ao poeta que o aspecto onírico-temático.

O “arquipélago-constelação” “solitude, récif, etoile…” como epígrafe de Pedra do Sono já seria suficiente para situarmos João Cabral no eixo Baudelaire-Mallarmé. Sob o ponto de vista das lições mallarmaicas, podemos citar a realização da crítica por meio do fazer poético, a luta contra a folha em branco a ser preenchida ou ainda o engajamento na linguagem.

São vários os poemas dedicados por Cabral a Joaquim Cardozo. Deste outro poeta do Capibaribe, ele absorve o cálculo, a racionalidade em busca da formulação perfeita, o domínio do ofício. As afinidades espraiam-se em ondas medidas nos livros de Cardozo, a notar: “Poemas Sistema”, “Sonetossom” e “Arquitetura Nascente e Permanente”.

Reparando na epígrafe de Le Corbusier, no terceiro livro do poeta “O Engenheiro” ─ “ Machine à emouvoir” ─ não notamos fatores dissonantes com a obra racional e geométrica do arquiteto, que primava pelo todo sólido e coerente, opondo harmonia ao caos.

Em suas “Notas sobre o toureio”, João Cabral fala sobre a arte de tourear, aproximando-a, em alguns pontos da arte poética. Para o poeta, exponerse (expor-se, arriscar-se) é a pedra de toque do toureio, o que o levaria ao gosto de viver no extremo do risco assumido. A inteligência do exponerse é a consciência do fazer, a luta contra o limite imposto. No toureio, exponerse está ligado à elegância, à sabedoria e ao domínio sobre o animal. Da mesma forma, esta é a maneira pela qual o poeta deve se relacionar com o poema. O toureiro, como o poeta, não pode tranquilizar-se em seu saber fazer.

Em “O sim contra o sim”, de “Serial”, Cabral exerce a leitura de algumas de suas afinidades literárias e pictóricas, elevando-as ao mesmo nível. O poeta entende o processo construtivo de Marianne Moore e Francis Ponge como ato de cirurgiões:

“Marianne Moore, em vez de lápis,

Emprega quando escreve

Instrumento cortante:

Bisturi, simples canivete.

(…)

Francis Ponge, outro cirurgião

Adota outra técnica:

Gira-os nos dedos, gira

Ao redor das coisas que opera.”

 

Cabral capta o modus operandi dos poetas evocados pela aprendizagem e o compromisso com a linguagem. Para falar a respeito desses poetas, ele não evoca suas técnicas, mas sim a forma pela qual se revelam.

Na leitura que faz de Miró, Cabral percebe a luta permanente do pintor para limpar a visão e controlar a mecânica da mão. A criação é o equivalente da invenção permanente, por meio da luta contra o hábito e da habilidade para se chegar à ingenuidade da liberdade.

 

“Miró sentia a mão direita

Demasiado sábia

E que se saber tanto

Já não podia inventar nada.

(…)

A esquerda (se não se é canhoto)

É mão sem habilidade:

Reaprende a cada linha,

Cada instante, a recomeçar-se.”

 

Resta, assim, cotejar os ensinamentos de Joan Miró a Cabral no ensaio que o poeta escreveu sobre o pintor catalão. Neste texto, percebemos  traços em comum entre os dois criadores, a ponto de vermos João Cabral implicado no processo de criação de Miró.

Em consonância com o ensaio, o poeta e o pintor são essencialmente marcados pela preocupação com o ato de construir e com o equilíbrio da composição. Os grandes painéis de Miró controlam e preveem o percurso do olho do espectador. Tal é também a intenção de Cabral (entre outras) no uso da pontuação (principalmente os dois pontos e o ponto e vírgula), do esquema métrico, da rima toante, da quadra como unidade compositiva e dos poemas em série. O  mínimo detalhe da composição significa problema para ambos. Assim como o quadro para Miró é um pretexto para fazer, para Cabral a folha em branco serve como pretexto para escrever.

Por entender que a crítica sempre reduz o objeto de análise, consideramos necessário dizer que há na obra de João Cabral muito mais que disciplina e raciocínio; ela tem muito de finura, sutileza e humanidade.

 

 

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Intervalando…


intervalo

Muitíssimo por dizer, temas aos montes, em revoada. Mas o tempo… contraindo-se inclemente… contumaz algoz, no mundo que o transformou perfidamente em dinheiro. Tempo é o que nos dá sentido, é o que transforma o existir em viver, é o que dinamiza. Espaço sem tempo é um labirinto de estaticidade, masmorra de movimentos, labirinto parado! É no tempo que somos!

Perdi-me num labirinto de saudade
Senti
À montanha
Dos sítios que não mudam
Subi

E ao abismo
Do vertiginoso futuro
Desci

Procurei para o sol
Procurei para o mar

Mas sem ti
No céu da paisagem daqui
Afinal não saí
Mas sem ti
No céu da paisagem
Perdi
A noção da viagem

Na pedra já mais que branda da memória,
Escrevi
Com o tempo
que o musgo vai levando a crescer

Com o brilho que a esperança nos faz
no olhar
Escrevi
Que a saudade é prima afastada do vagar

Mas sem ti
No céu da paisagem
Perdi
A noção da viagem
Mas sem ti
No céu da paisagem
Daqui
Afinal não saí
Mas sem ti
No céu da paisagem
Perdi
A noção da viagem

[composição: Carlos Maria Trindade]

intervalo 2

É má hora para recolher os dedos do teclado em função transversa. Índios sendo assassinados, vilipendiados; Maraca prostituído, privatizado; protestos pelo ir e pelo vir; espionagem estadunidense; tanto mais… Temas de conjuntura e de estrutura, de estar e de ser. Porém, o momento é dalgum acúmulo de tarefas mui diversificadas e ainda mais estreitadoras do tempo. Por isso, eis que me sinto obrigado a um pequeno intervalo, a um desócio irrecreativo, de forma que possa equacionar tempo em minha vida. Não será longo; possivelmente de cerca de duas semanas. Passado esse lapso, retornar hei, a meus lapsos transversos para, então, cometer mais algumas doidivanices analíticas com quem quer se disponha aa cumplicidade leitora aqui.

Enfim, um artigo (na verdade, uma espécie de para-artigo) breve como o inverno carioca.

Boa saudação, em digressão, claro, é o ciao italiano (origem de nosso exoticíssimo tchau), que tanto serve para encontros quanto para despedidas, uma espécie de oi-despedideiro.

É isso. Por hoje, é só, pessoal!

E na “dialética” dos Beatles…

Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim. (Álvaro de Campos) alvaro de campos

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Que esse negócio de honra e virgo é tudo peta


Hoje estou a fim de bater papo de mulher pra mulher. Homens são bem vindos desde que não tenham medo de TPM. Para ser honesta, aviso que meu senso de humor está mais  para o ácido e escorrendo. Ainda deu pra rir desses versos do Bocage, o desbocado português que minha avó citava só entre mulheres e apenas o que de menos picante. Esta peça jamais entraria em seu repertório mas veja quantas voltas deu o mundo, vó Candinha, agora podia estar em um cartaz qualquer da Marcha das Vadias : .

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:
 
Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a c’roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:
 
Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:
 
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.

                Acho que minha avó já não ia se escandalizar. Mulher discretíssima, vestiu luto pelo marido mais de 20 anos, mas dizia que era bobagem as nossas mães censurarem as nossas mini-saias. Acho que herdei qualquer coisa de seu temperamento. Tenho quase certeza que ela também acharia justa a campanha do Ministério da Saúde voltada à prevenção de DSTs entre as putas. Como cristã, era muito sensível ao sofrimento humano, qualquer fosse ele. Fiquei grata ao meu amigo Paulo por mandar essa poesia do Boccage que trouxe de contrabando minha avó. Ela está gravada na minha memória bem no centro da galeria de heroínas prediletas da minha infância. Com Joanna D´Arc de um lado e Anita Garibaldi do outro. Eu tinha um livro sobre “ grandes personalidades históricas” e a biografia das duas me encantava tanto quanto as histórias de vida da minha avó . Histórias de uma mulher que frequentou a escola por apenas dois anos, começou a trabalhar aos 9, parir aos 14 e viveu sempre sob tutela masculina. A menina achava que todas as heroínas tinham este defeito – depender dos homens- e não conseguia decidir qual das três era a mulher mais bacana.

  Eram tempos áureos do feminismo e dele me falava minha mãe. Agora vivo encontrando meninas crentes que todos seus direitos não foram conquistados, caíram do céu. E as pobrezinhas sequer percebem que só dá homem no panteão da História do Brasil. Tenho que recomendar pesquisa de campo.  Vai dar uma voltinha pela cidade. Sai pelas ruas e dá uma conferida na proporção do estatuário. A mulherada perde feio no álbum de heróis da pátria. As poucas a comparecer são quase todas das artes. O que também livra o género de várias vergonhas, isso lá é verdade. Não soube de nenhuma representante do belo sexo entre os torturadores, como profissional remunerada pelo Estado na ditadura civil- militar brasileira, por exemplo. Menos mal. Não que a gente possa deixar de lado a desconfiança de que muita respeitável senhora andou a fazer cafuné no marido que chegava em casa exaurido de tanto martirizar prisioneiro político com choque eléctrico. Esse pode ter sido o caso da esposa impoluta deste militar que fez juramento de honra à bandeira e depois foi matar um prisioneiro político com uma paulada,  pai do Ivan Seixas, adolescente na época – torturado com choques eléctricos. Este mesmo Ivan que agora revelou à Comissão da Verdade suas memórias, que incluem como um funcionário público estuprou sua irmã na hora do expediente e nunca foi condenado por isto. Aliás, o depoimento da Lucia Murat no Rio de Janeiro, esta semana,  me fez pensar bastante sobre quantas histórias de mulheres brasileiras valorosas nunca poderão servir de exemplo ou inspiração. Óbvio. Sem que todos saibam a História é difícil opinar, debater e nos lembrarmos para sempre,  como fazemos com as novelas. Deve ser por isso que tanta gente acredita que nós só sabemos ouvir música ruim, fazer fofoca, falar de sexo, futebol e cerveja, não é ? É isso o que a TV – o único veículo de informação onipresente do Oiapoque ao Chuí, acessível até a quem sofre de analfabetismo funcional –  deixa saber, pensar, debater, lembrar.   

 O fato de ser mulher não nos credencia automaticamente como seres humanos melhores, como disse a amiga Lourdes outro dia. Ela não disse exatamente isso mas comentou aqui no Transversos que a Margareth Thatcher foi, além de líder, poderosa e de ferro, uma grande broaca. Está certíssima. Não somos, por destino biológico, melhores – e nem piores. Somos, como os homens, capazes de tudo. Ou não. O caso da Margareth, penso eu, e de tantos líderes políticos de todos os sexos, é que não chegou lá à toa. Foi levada ao papel porque tinha o perfil, a disposição e as ideias de quem podia fazer. No caso, porque era capaz de fazer o que o pessoal de Chicago queria que se fizesse. É claro que não basta ser mulher para ter grandes ovários, isto é, inteligência ao ponto de saber fazer o enfrentamento aos Senhores do Mundo. Ou vontade, coragem, capacidade e poder para apenas melhorar o mundo. Mas porque é que as nossas conterrâneas que fizeram diferença mal figuram no rodapé dos livros escolares? Ah, minha cara, vocês dirão, essa é fácil, nossa história de opressão, o machismo, aquela coisa toda. Ok. Foi uma pergunta retórica. O fato é que estou com cólicas e era nestas mulheres que pensava enquanto tomava um comprimido. Digam lá o nome de uma célebre personalidade que marcou a História política do Brasil e enfrentou, ao menos, cólicas, falta de absorventes, partos. Digam de cor. Anita Garibaldi não vale. Princesa Isabel também não (eu teria de escrever um monte pra falar do que eu penso sobre a história desta moça, me poupem). Se forem gugar pulem o site Brasil Escola do R7. Além da Anita, só tem rainha má, quase todas patronas de grandes guerras. Pulem e bloqueiem no computador das meninas também, se possível. No site do Terra citam quatro mulheres por século. Dá uma media de uma a cada 25 anos, mais ou menos. Pelo menos serviu para eu ficar conhecendo Madalena Caramuru que, conforme consta, foi a primeira brasileira a dominar o alfabeto. E sabem para quê esta mestiça, filha de um português e neta da índia Moema, resolveu usar suas artes caligráficas ?  Para escrever ao Padre Manuel da Nóbrega pedindo que tratasse as crianças índias escravas com dignidade e oferecer 30 peças (?) por suas cabeças. Mais o site não diz – e não vou pesquisar mais. Minha disposição física, próxima da miserável, me inclina a alguma auto-indulgência. Prefiro fantasiar que o piedoso catequista aceitou a oferta de troca. Que ela acolheu todas as crianças escravas e as alfabetizou. Vou acreditar que uma delas é minha antepassada e só estou aqui, hoje, graças a este gesto mínimo, invisível e sem direito a obelisco da Madalena Caramuru que também é, na minha fantasia, tiaquinquacaravó do BNegão. E assim sendo, ele acabou de se revelar meu parente.

Eu ia terminar estas linhas com uma música antiga e bobinha que me veio à memória. Era aquela  “… cartas já não adiantam mais..” mas desisti porque até auto-indulgência tem limite. Então, graças à minha amiga Kika que produz podcasts de música brasileira* para o mundo ouvir melhor o Brasil, vou  divulgar o som desse meu primo, o BNegão, que diz : “Nossa capacidade de enxergar a realidade será nosso passaporte de liberdade então, priorize as prioridades”.

Vou aceitar o conselho dele, o analgésico está fazendo efeito e vou à vida. Grata às valentes amigas que ficaram comigo até o fim deste texto truncado e mal escrito. Mas sei que vocês são assim mesmo. Mulher quando dá para ser solidária vai até as últimas consequências. É isso aí. Dêem, amigas, dêem tudo – a solidariedade e o que mais tiverem para dar. E ainda abuso, pedindo que  também não desistam de plantar algum senso de Justiça. Que esse Brasil rico, pobrezinho, continua carente. 

*PdOmatic : Caipirinha Apreciation Society ( CAS)

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De portas abertas


ImageA aventura o excita. Quer o pulsar do coração e de outros órgãos. Entrega-se ao flerte e ao desejo sem culpa e com desespero. Permite-se. Se machucar, não há problema. Vacila e sabe que ela sabe. Cheguei mais tarde, mas um dia ainda te explico direito. Sabe que esse caso está meio mal contado.

Acredita-se sedutor, mas a inconsequência não existe, apenas disfarça o crescimento imperativo. Espera que a vida seja feita de ilusão. Deleita-se e sorri. Não enxerga o outro como um fim em si mesmo.  Ignora que é preciso saber viver. Consome os dias em ampla e irrestrita fruição de sentidos. Humaniza-se na estratégia, animaliza-se no feito. Image

Sem moralismos nem restrições à conduta liberta de quem quer que seja, ela apenas pergunta a si mesma sobre os danos causados quando as regras do jogo são variáveis. Assustou-se e assustou-o quando sussurrou pensativa o que ouviu em Lua de Fel: “Cuidado! Não há nada que você faça que eu não possa fazer melhor”.

Ele pensou ser brincadeira. Ela, logo ela? Partiu mais uma vez sem aviso rumo a outros braços, outras pernas. Na volta, esperava o cachorro lhe sorrir latindo. Lembrou Neruda: aquele amor perdido é uma rosa branca que se abre em silêncio. Encontrou a porta aberta. Mas a casa estava vazia. Não era de mais ninguém.

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