Depois dum intervalo um pouquinho maior, eis de volta Desengavetando, com cinco poemas bem queridos. Na verdade, eu os considero mais queridos do que bons, mas o negócio é desengavetar, certo? Foi esse o acordo firmado, desde a primeira publicação, afinal… O primeiro é especialmente dedicado ao vindouro 25 de maio (acompanhe aqui em Transversos que ficarás a par).
CREPÚSCULO ESMERALDA (ou A um amigo chamado Hal Jordan)
Longe…
A bateria pulsa
ligada ao coração de Oa,
de onde uma voz
anã azulada ecoa:
“No dia mais claro,
na noite mais densa,
o mal sucumbirá
ante a minha presença…”
Guardo por presente,
o anel que me deste,
sendo destro,
em vil rompante,
última viagem verdejante.
SONETO SHAKESPEARIANO
Hamnet lúgubre em sua tumba
chorado por fadas, duendes e arlequins
distanciado da floresta vetusta
no pretérito fantasioso que fora assim
num limiar do real que assusta.
Rosencrantz e Guildenstern solitários na torre
lamuriosos por seu rei atraiçoado
em busca do preciso ponto de escape
redenção de aflição de um todo
plangente em atormentado desespero célere.
Oh! doce Yorick, tutor de alegrias
saudoso das paixões que virão.
Te reencontro por aí na picardia
numa próxima e onírica encarnação.
BETA CARENINA
Olhos de lince na noite eterna,
Alfa, Beta, Gama…Ômega…
Princípio do todo infinito.
Pulsar no Sempre!
Pedras gêmeas orbitando.
Um grão de areia na Terra,
um microquark,
meio angstrom.
Resposta enigmática!
Lar, Universo, Plenitude!
Todo o tudo é absurdamente pouco!
∞ +++
OBSESSÕES
A espreita…
fria e cruenta,
de pavor nutrida,
enamorada mórbida
de teu olhar
vidrado, petrificado.
A carência e a querência
de teu grito introjetado,
de teu temor cultivado,
nas sombras que edificaram
as entranhas de tua alma
em putrefato ensimesmamento.
À espreita,
de teu ocaso casual,
reiterado, em rés existência,
presa consentida,
de ser sem sentido,
tão sensível a esta obsessão.
DOPPLER
A Terra gritantemente azul…
crepita incessante
em azulações crescentes
de frenéticas aproximações.
Azul desaconchegante,
invasivo, inebriante.
Segue-se a vermelhidão
inevitável, irreversível, célere
que recobre tudo
o que circunda.
Vermelho de menos viver,
distâncias a crescer.
Assim vivo em roxo.
Em roxo, sobrevivo.
Paradoxalmente roxo.
Roxamente.