Arquivo do dia: 9 de maio de 2013

Mãe, não é nada pessoal


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Parece um bebê, mas é um Reborn

Foi dada a largada: roupas, acessórios, sapatos, maquiagem, perfume, roupas de cama, mesa, banho, artigos do lar, ingressos pro Black Sabath. Lojas como formigueiros, ruas em burburinho. O Dia das Mães é a segunda data em que o comércio mais fatura, sendo superada apenas pelo Natal.

Nesse misto entre estresse e comemoração, em que algumas poucas pessoas da família costumam-se dar muito mal em todos os sentidos em prol de uma reunião nem sempre saudável de diferenças, surgem inúmeros questionamentos. As mães que me perdoem. Não é nada pessoal.

Em primeiro lugar, essa divinização da figura materna é algo tremendamente irritante. As pessoas mantêm vínculos porque cuidam dele, nada desse papo de ser “sangue do meu sangue”, nem de que “mãe só tem uma”. Na verdade, sempre achei que ter filhos não reúne nada de altruísta – conversa mole essa de amor irrestrito e incondicional. Há condições, sim. A regra é clara. Deseja-se a perpetuação de si no outro. Eu sumo da face da Terra, mas há algo de mim que permanece na minha descendência. Pura vontade de habitar, puro instinto de evitar a extinção.

Não conheço nenhuma mãe que diga que desejou um filho pensando nas noites que passaria em claro, por conta de cólicas, primeiros dentes, doenças infantis, reprovações na escola, baladas até tarde. Todo mundo quer o filho havaianas, aquele que vai onde você for, obedece, demonstra gratidão, não deforma nem solta as tiras.

Entenda-se aqui que não minimizo o amor que mãe e filhos são capazes de nutrir um pelo outro. Só me incomoda o clichê: os adesivos em automóveis, as tatuagens pelo corpo, o avental todo sujo de ovo.

Não considero aceitável a condenação das mães em discursos que vitimizam filhos adultos destinando a elas o papel de agentes do mal-estar. Claro que não estou tratando aqui de casos extremos de crueldade ou tortura. Estou falando daquela relaçãozinha básica entre os afetos em que as discórdias resvalam sutilmente para o incômodo, para a punição simbólica, para a decepção de descobrir-se instrumento de vida e não controladora de nada.

Conheço uma moça que tatuou o lindo rosto do filho nas costas. O desenho é bárbaro. Mas penso cá comigo que se eu estivesse com um homem cuja mãe tem marcada para sempre no próprio corpo aquela figura, eu correria para bem longe sem nem ter treinado para a maratona. Problema na certa! Pior que isso só os Reborns, bonecos bebês que estão à venda na internet por aproximadamente R$ 1.500,00. Detalhe: há profissionais que trabalham sob encomenda, fazendo réplicas conforme fotografia enviada pelo freguês. Nos sites, eles às vezes acompanham o subtítulo “Meu bebê ideal” – como falei, é o filho havaianas. Ele não chora e o melhor de tudo – não cresce!!! Ora, se não há crescimento, não há conflito e ponto final. Triunfa a paz nesse reino de mães que sabem tudo o que é melhor para seus filhos e filhas e que permitem que o desequilíbrio emocional as afete tendo a quem culpar por isso.

Categorias: Crítica, Cultura, Mídia, Reflexões, Sociedade | Tags: , , | 8 Comentários

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