Arquivo do dia: 22 de maio de 2013

MEU PROTESTO PELO DIA DAS MÃES: POR UMA MATERNIDADE LAICA NO SÉC. XXI


Qual princesa irá nos libertar desse bendito domingo de maio???

por  Lourdes Campos*

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Tenho a convicção de que ser mãe não está ligado a gerar, parir, amamentar… Tudo isso pode fazer parte, mas o que para mim caracteriza o materno é o cuidar e nem acho que só as mulheres teriam esse “dom” de cuidar, incondicionalmente, afinal a  natureza nos mostra que, em algumas espécies, quem cuida é o macho.

O fato de termos ficado nas cavernas enquanto os caras saíam à caça talvez tenha nos tornado mais cuidadosas com as crias. O carregar na barriga, parir e amamentar sem dúvida tem muito a ver com esses estreitos laços, mas a natureza negou realmente essa possibilidade ao homem? Por acaso mulheres que não amamentaram, não pariram ou sequer geraram são consideradas menos mães no sentido de não poderem ser maternais, defensoras e cuidadoras de seus filhos, crias suas ou não?

Nos dias de hoje, mais do que nunca, graças à diversidade de famílias, é fato que o sangue tem muito pouco a ver com essa instituição, já está passando da hora de superarmos essa supremacia da mulher em cuidar.

Sinceramente, sou avessa a todas as fatalidades. Ser mãe não é padecer no paraíso, não é só a mãe que é capaz de cuidar e nem muito menos só a mulher. Vamos parar com essa demagogia, que só nos leva à escravidão. Cuidamos, sim, com amor, fazemos o possível e o impossível por nossos filhos, mas não seria melhor dizer por todos aqueles que convivem conosco, que fazem parte da nossa família nuclear? O sangue tem realmente algo a ver com esse amor? Quantos exemplos temos de filhos adotados, de famílias com duas mães, dois pais, famílias que foram se ampliando além dos pais biológicos, com novas relações e seus companheiros e filhos. A modernidade não é destruidora de bons costumes, ao contrário, ela incorpora, escancara realidades escondidas há muito tempo e as revela, proporciona novas formas do viver e amar, felizmente!

Podemos todos respirar aliviados, basta de mães santíssimas, assexuadas, que sangram por seus filhos e sobem aos céus puras e sem pecado. Haja tanta santidade! Somos normais, mãe não é sinônimo de abnegação, não mais do que possa ser um pai, não é exclusividade do nosso X. E se os homens ainda não chegaram lá talvez parte da culpa seja nossa, de mães, irmãs, companheiras e amigas que não os educamos para cuidar, não lhe demos bonecas quando crianças, não incentivamos o carinho e cuidado com o outro, com o mais velho. Por que a mulher é sempre escolhida como a cuidadora da pessoa doente na família? Os homem não sabem? Vamos ensiná-los!

* Lourdes Campos, cinquentona, grisalha e gordinha, já foi pesquisadora social, artesã de feira de shopping e das vilas de Sampa. Atualmente cuidadora do lar e de filhos que ela quer que saiam de casa logo – mas tá difícil. Tentando ser feliz com seu companheiro e com esse mundo conturbado e injusto em que vivemos, sabendo que o importante é a alma não ser pequena, continua tentando crescer e aprender com os amigos e com os livros.

 

Categorias: Reflexões | 10 Comentários

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